Capítulo 1 | Novel 'A Lenda do Exorcismo'

setembro 03, 2021 0

 

CAPÍTULO 1 - Os Três Sábios de Yaojin

A Lenda do Exorcismo





Quando alguém quisesse cruzar o Rio Amarelo, estaria totalmente congelado; quando alguém quisesse subir as montanhas Taihang, as passagens estariam há muito tempo seladas com uma vasta extensão de neve.

O céu índigo estendia-se até onde a vista alcançava. Os picos das montanhas Taihang eram cobertos de neve o ano inteiro, camuflados entre as nuvens que flutuavam no horizonte. Este lugar era além do alcance de aves comuns, apenas alguns falcões brancos pairavam alto nos céus, enfrentando o mordaz ar gélido ao que se tornavam pequenos pontos pretos manchando o cenário azul escuro.

Um pássaro gigante apertava um pequeno pacote embrulhado em tecido em suas garras. Ele planava pelos céus, batendo suas enormes asas. No crepúsculo, raios dourados de luz refletiram em suas penas quando arremeteu e voou em direção às nuvens que encobriam o topo das montanhas. Depois de passar pela névoa, deslumbrantes palácios apareceram no meio das montanhas Taihang, envoltos por seus vários cumes. Vistas naquela escuridão, as paredes externas das construções pareciam ter sido pintadas com uma camada de chamas escarlate.

A neve nunca se acumulava nos palácios em época alguma, pelo contrário, os jardins eram preenchidos com árvores guarda-sol[1] verdejantes. Parecia um eterno verão embaixo dos esplêndidos raios de luz solar. Uma brisa de final de tarde soprou por perto, as folhas das árvores guarda-sol cobrindo as montanhas farfalharam, criando sombras com a luz remanescente do crepúsculo como se as cortinas de um longo, porém lindo sonho fossem abertas.

O pássaro gigante pousou em uma plataforma no exterior do palácio principal. Acompanhado por um prolongado grasnido que ecoou pelas montanhas, ele sacudiu suas plumagens cintilantes com um VUSH que pareceu cobrir a terra e recolheu suas asas novamente. Quando as penas que cobriram os céus foram totalmente dispersas, um homem alto e jovem apareceu em seu lugar.

O homem tinha quase dois metros de altura e um rosto com feições distintas, seus olhos profundamente negros brilhavam com um toque de um dourado escuro. Seu torso estava desnudo, com músculos bem definidos adornando seu abdômen e sua pele era pintada de bronze da cabeça aos pés. Ele vestia uma saia monarca preta bordada com desenhos dourados que flutuava livremente ao vento e segurava o pacote em uma de suas mãos enquanto andava lentamente em direção ao palácio principal.

O palácio estava lotado de jovens homens e mulheres andando para lá e para cá. Quando viram o homem, todos imediatamente se prostraram em seus joelhos. 

“Rei Qing Xiong.”

A saia do homem chamado Qing Xiong ondulava atrás dele ao passar pelo saguão cercado de árvores guarda-sol, caminhando para as partes mais profundas do edifício. A noite caiu silenciosamente, as lâmpadas ainda não acesas no palácio principal. Em meio à luz natural que reluzia lá dentro havia três tronos em uma plataforma. Dois deles estavam vazios e um homem de cabelos vermelhos vestido em trajes igualmente avermelhados sentava no trono do meio.

Seus cabelos rubros pareciam uma chama ardente, seus robes reais aparentavam ser de um ouro avermelhado deslumbrante mesmo no local escuro, como se um glorioso céu da manhã fosse refletido no material luxuoso. Uma longa e resplandecente pena presa em seu cinto estendia-se pesadamente pelo chão e o tecido na parte superior de seu corpo caía folgadamente de seus ombros, expondo sua pele branca e seus músculos poderosos.

Quando ouviu o som de passos, olhou para cima, encontrando os olhos de Qing Xiong.

Ele era o rei deste palácio e o governante da região nevada e daquele firmamento. Poucas pessoas no mundo conheciam o venerado nome de Chong Ming atualmente; quase duzentos anos já haviam passado, as dinastias da Terra Divina[2] haviam mudado e sua antiga fama havia desaparecido da história sem deixar rastros há tempos. 

Ele possuía um belo rosto, sobrancelhas afiadas como lâminas e irradiava naturalmente um ar de dignidade e imponência. Uma cicatriz de queimadura podia ser vista em seu pescoço, a pele inchada estendendo-se por todo o caminho até abaixo de uma de suas orelhas.

Depois de uma quietude prolongada, Qing Xiong finalmente falou.

“Quando Kong Xuan morreu, ele lhe deixou um órfão para criar.”

“Como ele morreu?” Chong Ming perguntou friamente.

Qing Xiong balançou a cabeça lentamente e o palácio caiu em um silêncio sepulcral. 

“Eu não irei criar a prole dele com uma humana qualquer,” Chong Ming disse indiferente. “Vá para o Penhasco do Sacrifício nas costas da montanha e encontre um lugar para jogá-lo fora.”

Qing Xiong agachou-se em um joelho e pousou o embrulho em suas mãos. Quando o pacote tocou o chão, gradualmente ficou maior e se abriu. Os quatro cantos do tecido bordados com desenhos de lótus emitiram um brilho amorfo e quando se desenrolou totalmente havia um garoto no meio.

O garotinho dormia enrolado de lado. Ele tinha belas feições, mas vestia um saco de juta em volta de seu diminuto corpo, seu pequeno peito subindo e descendo a cada breve respiração. Ele segurava algo em suas mãos e sua postura curvada parecia como uma tentativa de proteger o importante item em seus braços.

“Em termos de idade humana, ele está com quatro anos agora,” Qing Xiong continuou. 

Chong Ming observava a criança silenciosamente.

Qing Xiong a pegou. Quando segurou o garoto em seus braços, a criança se debateu em desconforto. 

“Ele parece com o pai quando era pequeno,” Qing Xiong falou.

Envolta em seu abraço, ele subiu os degraus e parou em frente a Chong Ming, sussurrando, “Veja… olhos, sobrancelhas.”

Chong Ming não alterou sua resposta. “Eu já disse, livre-se dela.”

Qing Xiong entregou a criança para o outro. Chong Ming não a aceitou, então Qing Xiong depositou-a em seu colo. O garoto moveu-se novamente, como se estivesse acordando de um sono profundo. Ele tocou o peito desnudo, porém caloroso de Chong Ming e inconscientemente fechou seus pequenos dígitos sobre os robes reais. Ao mesmo tempo, o objeto escorregou de sua mão — era uma pena verde de pavão.

“Dê um nome a ele. Estou indo.” Qing Xiong afastou-se do trono.

“Aonde você vai?” Chong Ming inquiriu friamente. “Você está deixando-o comigo, mas quando eu pensar naquela mulher, irei matá-lo.”

“A escolha é sua.” Qing Xiong virou-se para mirar Chong Ming enquanto dava alguns passos para trás. “O tempo de Di Renjie se esgotou. O mundo humano está gradualmente virando uma terra de demônios. O renascimento de Mara está batendo à porta, eu preciso descobrir a verdade por trás da morte de Kong Xuan.”

Ele virou-se novamente.

“Estou indo agora.”

Assim que falou, Qing Xiong saltou no ar, abriu suas asas e transformou-se de volta no gigante pássaro negro. Com um bater de asas, ele soltou outro longo grasnido e voou para fora do palácio noite adentro.

Quando o garoto ouviu o grito da ave, acordou de repente.

A pena de pavão feita de jaspe escorregou dos robes reais de Chong Ming e caiu no chão, fazendo um suave ding ding quando colidia com os degraus enquanto rolava para baixo.

Os olhos da criança miraram suas mãos. Ele percebeu que agarrava os robes de Chong Ming e, quando olhou para cima, seu olhar encontrou-se com o dele.

Uma lágrima caiu no rosto do menino. Com uma expressão aturdida ele levantou a mãozinha e acariciou o rosto do homem, ajudando-o a limpar as gotas que se formavam em seus olhos.

“Quem é você?” a criança perguntou timidamente.



 

Hebei, plataforma Youzhou.

Folhas de bordo da cor de sangue rodopiavam pelo céu. Um homem e uma mulher encontravam-se na frente de um prédio, ele vestindo um traje azul enquanto ela parecia linda e sedutora. Os dois apoiavam-se no parapeito enquanto observavam as grandiosas montanhas e rios.

“Ó Céus e a Terra, tão ilimitados e sem fim! Estou completamente sozinho, minhas lágrimas continuam a rolar por meu rosto,” O homem vestido de azul casualmente recitou. “Bo Yu[3] realmente é um gênio inortodoxo.” 

“Por que você parece estar de tão bom humor de repente?” A mulher andou por trás dele e disse vagarosamente, “Depois da morte de Di Renjie o mundo humano aos poucos se tornará uma terra de demônios.”

“Não há razão para ficar tão ansiosa,” o homem de azul murmurou. “Nós ainda não sabemos se aquele velhote tem algum plano B. Como estão indo as preparações para o receptor de Mara?”.

A bela mulher respondeu, “O receptor dessa vez está perfeitamente disposto a fazê-lo, então a fusão foi extremamente bem sucedida, mas ainda precisamos observá-lo por mais tempo. Falando nisso, você não tem medo de ter criado uma confusão depois de matar Kong Xuan? E se aquele homem nas montanhas Taihang estiver planejando uma vingança…”

“Se ele quisesse aparecer, o teria feito há tempos." O homem riu. “A sorte estava na margem leste trinta anos atrás, mas voltou-se para o oeste depois que trinta anos se passaram[4]. A era de ouro do Palácio Yaojin já acabou, Chong Ming está preso pelo veneno das chamas, do contrário ele não seria obrigado a se aposentar duzentos anos atrás. Agora, Chang’an pertence a nós dois.”

A melodia de um Sizhu[5] soava ao longe. O homem se aproximou da bela mulher, alisou os cabelos em suas têmporas e analisou seu rosto. Ele sussurrou, “Vamos, Vossa Majestade ainda está esperando.”

 



Doze anos depois, no Palácio Yaojin no pico das montanhas Taihang, o sol do meio de verão brilhava forte e uma sombra passou pelas árvores guarda-sol como um meteoro, mesclando-se às delas.

Um jovem rapaz vestia um traje curto e sem mangas de um vermelho escuro, um robe bordado com padrões verdes estava amarrado em sua cintura, tal como uma bela peça de jade. Ele se sentou no galho de uma árvore guarda-sol enquanto misturava um pólen branco em uma tigela em suas mãos. De tempos em tempos, seus olhos vivazes miravam o salão do palácio através das janelas abertas.

Dentro do prédio, as cortinas de gaze flutuavam ao vento. Chong Ming descansava no divã real enquanto olhava lá fora para as montanhas banhadas à luz do sol.

“Hongjun!”

“Shh…” O jovem rapaz chamado Hongjun levou seu dedo aos lábios ao olhar para baixo. 

Aquele que o chamara na verdade era um yao[6] carpa que possuía um par de braços e pernas. Este demônio parecia extremamente peculiar, seu corpo era um torso de peixe com quase quarenta centímetros de comprimento e duas pernas humanas cobertas de pelo despontavam de seu abdômen para que pudesse andar. Duas mãos emergiam no lugar de suas nadadeiras, no momento agarrando-se à árvore guarda-sol enquanto exclamava. 

“Desça daí, depressa.” A boca do yao carpa abria e fechava enquanto cuspia algumas bolhas. Sua cauda de peixe balançava ao insistir, “Você não sabe como voar, se cair e se machucar Sua Majestade descontará nos outros!”

Depois de misturar o pólen, Hongjun sussurrou para baixo, “Meu pai esteve sentado lá dentro o dia inteiro sem querer ver ninguém. Ele ficará furioso se alguém for lá.”

“Ele está esperando alguém,” o yao carpa respondeu. “Sua Majestade não está de bom humor hoje.”

Hongjun terminou de misturar o pólen em suas mãos e perguntou, “Quem ele está esperando?”.

O yao carpa gaguejou e hesitou. Hongjun saltou da árvore e rapidamente andou em direção ao palácio principal. No caminho, onde quer que o jovem rapaz passasse no Palácio Yaojin, todos o reverenciavam e o chamavam de “Sua Alteza”, e Hongjun acenava em resposta. Ao chegar na parte de trás do palácio principal, ele arremessou um gancho, voou para cima e pousou no topo do telhado.

Agachando-se, ele silenciosamente moveu-se pelo telhado até ficar acima de Chong Ming. Hongjun cautelosamente levantou as telhas esmaltadas e gentilmente soprou o conteúdo da tigela em suas mãos.

O pó medicinal voou do objeto como se estivesse vivo e cintilou com uma luz branca enquanto espalhava-se pelo cômodo. O yao carpa virou de lado e assistia a certa distância do palácio principal.

Chong Ming encarava as imponentes montanhas Taihang ao que começava a cochilar no divã. A marca escarlate em seu pescoço brilhou. Pólen voava para todos os lados, rodeando Chong Ming como se formasse uma galáxia de partículas de luz que gradualmente se colavam à marca vermelha e criavam uma camada de gelo sobre ela.

A boca do yao carpa abriu-se um pouco mais.

Junto à respiração cálida de Chong Ming, um pouco do pólen foi inalado quando ele puxou o ar. O homem subitamente abriu seus olhos e sua expressão tornou-se extremamente bizarra.

Eu consegui! Hongjun pensou consigo mesmo. Ele saltou do telhado e observou Chong Ming junto ao yao carpa, apenas para vê-lo levantar-se com pressa e mirar seus arredores. Suas feições faciais contorceram-se ao olhar para fora do palácio. 

“Pai…” Hongjun estava encantado e justo quando estava prestes a chamá-lo, Chong Ming virou-se abruptamente.

“AH… TCHIM!” Junto daquele espirro que sacudiu a terra, uma bola de fogo do tamanho de uma carruagem instantaneamente irrompeu de dentro do palácio principal e voou em direção às montanhas com uma imensa força destrutiva. Ela atingiu a encosta dos picos com um enorme estrondo.

As montanhas sacudiram; de dentro do Palácio Yaojin, os funcionários começaram a gritar em pânico.

“É um terremoto!”

“AH… TCHIM!”

Outra bola de fogo foi expelida e destruiu um dos pilares de jade branca do palácio principal. Hongjun soltou um grito agudo, então pegou o yao carpa e correu para o saguão para esconder-se na lagoa.

“Atchim, atchim! Atchim!”

Chong Ming espirrou três vezes seguidas. Bolas de fogo voaram e incendiaram as árvores guarda-sol no saguão e, dentro de um instante, o Palácio Yaojin inteiro transformou-se em um mar de chamas.

“Fogo! Apaguem-no!”

Uma bola de fogo também voou em direção à lagoa do saguão. O yao carpa instantaneamente lamuriou-se em aflição, “Quente, quente ah!”. Antes que pudesse registrar qualquer coisa, Hongjun já havia agarrado o outro demônio e escalado para fora da água. Ele correu apressado por entre as árvores guarda-sol incandescentes, então jogou-o por cima da parede antes de virar-se e lançar-se em direção a Chong Ming.

“Pai!” Hongjun entrou no palácio principal. Labaredas imensas já queimavam no cômodo. Chong Ming cobriu seu nariz e sua boca e olhou para Hongjun, que rapidamente falou, “Pai! Eu só queria ajudá-lo…”

Chong Ming imediatamente virou-se e, inesperadamente, respirou fundo. Ele não conseguiu segurar por muito tempo desta vez — chamas que poderiam incendiar os céus explodiram em uma rajada que transformou também o palácio principal em um oceano flamejante. O fogo ardente cercava Hongjun por todos os lado, no entanto Chong Ming arremessou-se em sua direção e puxou o garoto contra seu peito para protegê-lo.

Um grasnido de fênix ecoou pelos céus. Antes que qualquer um pudesse reagir, asas multicoloridas desenrolaram-se das costas de Chong Ming para defender Hongjun e ele das chamas. Elas emitiam uma luz amarela cromada, dentro da proteção sagrada da fênix uma pessoa não perderia nem um fio de cabelo em seu corpo mesmo que estivesse submersa em lava. Ambas suas vestimentas foram queimadas até que não sobrasse nem uma linha, revelando seus corpos nus.

Hongjun virou-se e deu uma olhada em seus arredores, o edifício principal do Palácio Yaojin já havia sido engolido pelo Fogo Sagrado de Samadhi[7].

Pássaros voavam em todas as direções, trazendo com eles a neve acumulada das montanhas Taihang. De baixo acima, eles corriam para os picos como uma cachoeira reversa e zuniam pelo ar enquanto preenchiam o interior do Palácio Yaojin. A nevasca abafou o fogo em um instante antes de derreter.



 

Duas horas depois, manchas escuras ainda podiam ser vistas no rosto de Hongjun enquanto ele encontrava-se em pé do lado de fora do escritório.

“Ai!”

A régua atingiu sua mão e Hongjun soltou um grito de dor.

“Contando com essa, quantas vezes já foram?!” Chong Ming havia mudado para roupas simples e segurava a régua em suas mãos. Ele exclamou com frieza, “Diga-me!”.

Hongjun gaguejou e hesitou. Chong Ming golpeou-o com a régua novamente, e novamente Hongjun gritou de dor.

“Você quer morrer queimado?” O homem o repreendeu com raiva. “Fique em pé no jardim frontal até escurecer, do contrário não permitirei que vá jantar!”.

Chong Ming atingiu-o pela terceira vez, particularmente forte, o que fez com que Hongjun até mesmo deixasse lágrimas caírem.

“Leve seu traseiro para lá e encare a parede!” o homem exclamou com raiva.

Então, Hongjun pôde apenas baixar sua cabeça e cruzar o jardim frontal para encarar a parede. A carpa coçou as escamas em seu corpo e seguiu atrás dele, agachando-se ao seu lado antes de virar a cabeça para colher um pouco de neve derretida no chão para beber.

Chong Ming estava totalmente enfurecido. Ele teve de sofrer tal calamidade completamente inesperada mesmo que estivesse apenas deitado em sua casa. Quando caminhou para fora do pátio, assobiou e pássaros novamente começaram a voar em todas as direções, levando para longe os galhos queimados e outros destroços em seus bicos.

“Eu disse para você não criar confusão,” o yao carpa disse ao seu lado. “Quantas vezes isso já aconteceu? Seu pai também já estava de mal humor hoje.”

“Como eu poderia saber que ele espirraria?” Hongjun protestou. “Eu procurei arduamente por três anos o pólen desse lótus da neve!”

“Todos já lhe avisaram,” o yao carpa respondeu. “A doença do veneno das chamas de seu pai não pode ser curado, pare de se atormentar com isso!”.

Hongjun parou de falar e ficou em frente à parede cumprindo sua punição, trocando o peso de pé depois de ficar parado por um bom tempo, depois alternando para a outra perna de novo. Ele estava um tanto entediado, então começou a analisar as marcas de queimado cinzas nas paredes do pátio. Elas lembravam um pouco uma pintura de paisagem, assim Hongjun levantou sua mão e limpou algumas partes para fazer o contorno das montanhas. Ele aparentava estar bastante satisfeito e pensou que realmente parecia como uma pintura feita com respingos de tinta.

“Seu pai vai brigar com você de novo se suas mãos estiverem sujas!” o yao carpa advertiu-o. 

Hongjun rapidamente respondeu, “Eu lavarei minhas mãos antes de comer.”



 

À tarde, fumaça preta ainda circulava no palácio principal. As brasas ainda estavam quentes, havia neve derretida em todo lugar e o chão estava uma bagunça. Quando Chong Ming se deparou com essa cena, realmente sentiu como se fosse chorar, mas não havia lágrimas.

O grasnido de uma ave ecoou nos céus. Um enorme pássaro negro envolto em luz dourada voou em direção ao pico das montanhas Taihang. Quando pousou, transformou-se em Qing Xiong, que ficou atordoado ao passar pelo saguão. 

“Por que este lugar está neste estado?” Qing Xiong questionou, espantado. Ele chamou um jovem funcionário e indagou, “Algum inimigo atacou aqui?”.

O funcionário não ousou respondê-lo e apenas disse que Sua Majestade Chong Ming o aguardava em um palácio adjunto, então Qing Xiong virou-se e entrou no jardim lateral.

“Qing Xiong!” ele ouviu um chamado animado.

Antes que pudesse dar ao menos um passo, Hongjun já havia se lançado contra ele e abraçava o pescoço de Qing Xiong, seu corpo inteiro agarrado às costas do homem.



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[1] Vulgarmente conhecida como guarda-sol chinês ou wutong, é uma planta ornamental de origem asiática.

[2] Como era conhecida a China.

[3] Mais conhecido como Bai Juyi, foi um famoso poeta da dinastia Tang e um renomado oficial do governo. Ele escrevia principalmente sobre sua vida, o governo e os conflitos militares da época. O verso recitado aqui é parte de seu mais famoso poema, “Canção do Arrependimento Eterno”.

[4] Um provérbio que significa que o mundo muda tão rápido que está sempre à frente de nossas expectativas, então não podemos prever com precisão como o futuro será.

[5] Um instrumento tradicional de cordas e sopro.

[6] Yao é um tipo de demônio da cultura chinesa que se refere especificamente a animais ou plantas que possuem poderes ou podem cultivar em um corpo humano.

[7] Samadhi (ou samádi) é um estado espiritual de consciência segundo o budismo.


Traduzido por: Mia

Revisado por: Mia

TGCF Brasil



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