Capítulo 7 | Novel 'A Lenda do Exorcismo'

setembro 20, 2021 0

 


CAPÍTULO 7 - Hai Mie Hou Bi

A Lenda do Exorcismo






Assim que a noite veio, a área caiu em silêncio, com apenas um cachorro latindo de vez em quando, porém pouquíssimas casas ainda tinhas as luzes acesas. O yao carpa seguia o garoto por trás, reclamando, “Eu disse a você para virmos mais cedo, mas você nunca escuta e agora todas as pessoas já foram para casa. No meio do escuro, sem luzes ou fogo, não conseguimos ao menos enxergar os letreiros nas portas, como vamos encontrar o local que deveríamos ir?”.

Hongjun ficou parado ali por um tempo até que os três mil toques do tambor cessassem e a noite realmente começasse na cidade. Ele podia apenas teimosamente bater de porta em porta e pedir por informações. Depois de ir em várias residências, o rapaz finalmente cruzou com um velho senhor mudo que levantou sua lanterna e a balançou em frente ao rosto do jovem, então Hongjun só pôde agradecer e se virar para ir embora.

A viela parecia ser parte de uma propriedade velha e depredada, cheia de ervas daninhas crescendo pelo pátio. Não dava para se imaginar há quanto tempo alguém havia vindo ali para ver o local nos últimos anos. O garoto apenas se deitou no chão, sem se importar com a sujeira de tão cansado que estava, caindo no sono assim que encostou sua cabeça.

 

 

 

Naquela noite, nuvens escuras cobriram a lua. Nas profundezas do Palácio Xingqing, um vento ruidoso soprava, sacudindo violentamente as cortinas e as velas a ponto de as chamas não conseguirem se manter, criando desenhos distorcidos de luz e sombras.

Uma rica madame usando um robe preto bordado com padrões taotie[1] sentava-se altiva ao final do salão, junto a três outros homens usando capuzes que escondiam seus rostos. Um deles lhe apresentou uma travessa, onde ali repousava uma faca de arremesso manchada de sangue.

“O que é isso?” A mulher perguntou.

“Quando Fei Ao estava fora da cidade caçando, foi atingido por esta faca,” o homem com a travessa disse em uma voz baixa. “Eu o enviei ao Palácio Daming por enquanto, para se esconder e cuidar de seus ferimentos.”

A mão esguia da madame levantou o objeto em sua frente, franzindo as sobrancelhas enquanto o analisava. Depois de observá-lo por alguns segundos, a lâmina da Faca de Arremesso Sagrada refletiu seu rosto de uma devastadora beleza.

“Nunca a vi antes.” Ela jogou a arma de volta na travessa, fazendo um suave barulho de metal.

“Tem alguém vindo,” outro homem alertou.

“Já faz tantos anos,” a mulher disse friamente, “E eles estão vindo apenas agora. Amanhã, eu levarei esta faca para Sua Majestade, para ver o que ele tem a dizer. E quanto ao dono desta arma?”.

“Foi perseguido por Li Jinglong e os dois entraram em luta corporal,” o terceiro sujeito respondeu. “Ele desapareceu depois da perseguição, no entanto, então talvez…”

“Hahahaha-” A madame começou a rir histericamente e os galhos de flores no salão estremeceram. “Isso está ficando interessante. Aquele idiota louco do Li Jinglong ainda está preso em suas fantasias de caçar demônios e exterminar fantasmas?”.

“Depois dos eventos da noite anterior, Fei Ao foi descuidado ao aparecer dentro da cidade e rumores já estão se espalhando em todos os lugares,” o homem disse, “De que há demônios em Chang’an…”

“Oh?” A senhora sorriu. “Há demônios em Chang’an? Esta é a primeira vez que ouço falar sobre isso. O santo Filho dos Céus senta em seu trono enquanto os quatro mares estão em paz e a terra prospera, de onde estes yaos estão vindo? Amanhã, eu sentarei com ele para ter uma conversa. Vocês podem ir agora e certifiquem-se de que Fei Ao não se revele. Encontrem o dono desta faca de arremesso e enviem-no a Fei Ao como jantar.”

 

 

 

O ar estava um pouco abafado naquele início de manhã de outono. Depois de alguns pios aqui e ali, o som das asas dos pássaros batendo foi ouvido da árvore guarda-sol do lado de fora da casa dilapidada enquanto estes voavam para longe.

Um barulho de colisão veio do pátio frontal e abruptamente tirou Hongjun do reino dos sonhos.

O yao carpa também foi acordado de repente, quase morrendo de susto. Depois de se arrastar para fora da bolsa, seu corpo de peixe pulou pelo chão com uma série de PA PA PAs enquanto dizia, “O que está acontecendo? O que está acontecendo?!”.

Logo em seguida, ele executou um movimento de “carpa saindo da água[2]” e ficou de pé, plantando firmemente suas duas pernas no chão. O demônio olhou para a esquerda e para a direita antes de perguntar, “Onde estamos?”.

“Tem alguém aí?” A voz de um homem soou, antes que o sujeito empurrasse a porta do saguão e entrasse no local.

Hongjun imediatamente levantou sua mão e protegeu seus olhos. Iluminado pela luz do sol em suas costas, ele viu um homem jovem, magro e esbelto de pouco mais de 1,80m usando uma roupa peculiar olhar de volta para si.

Os dois se encararam inexpressivamente por um momento, até que Hongjun conseguisse ver claramente o rosto do outro rapaz. Suas feições eram simétricas e bem esculpidas, suas maçãs do rosto altas, suas sobrancelhas escuras como penas de falcão e a curva de seus lábios bem definida. Sua pele tinha um bronzeado saudável, tendo sido exposta ao sol por vários anos, e seu cabelo preto e grosso estava preso em várias tranças pequenas. Ele carregava consigo um arco e uma aljava em suas costas e vestia uma capa de pele de carneiro no ombro esquerdo, revelando seu outro braço dourado e musculoso. O outro também usava um par de botas de caça pretas e uma bolsa de viagem amarrada em sua cintura, parecendo com um caçador.

O homem tinha costas largas e uma cintura esguia, e apesar de usar aquele pesado tecido de pele, aquilo não diminuía sua aparência extraordinária.

“Você assustou este yao até a morte,” Zhao Zilong murmurou.

O jovem viu o demônio carpa e foi pego de surpresa, rapidamente alcançando suas costas para puxar uma flecha de sua aljava, posicionando-a no arco e o puxando com proficiência.

Hongjun imediatamente se colocou entre os dois, “Este demônio não machuca a ninguém, eu sou um exorcista!” Depois de dizer aquelas palavras, ele instantaneamente virou para o yao carpa que estava prestes a se pronunciar e exclamou, “Zhao Zilong, não fale mais besteiras!”.

Com isso, o homem finalmente baixou seu arco, seu rosto com uma expressão ainda incrédula enquanto olhava para o garoto como se o julgasse, “Você é um exorcista? Então, por que anda com um yao? Isso… para quem eu deveria me apresentar para o serviço?”.

Hongjun indagou, atônito, “Se apresentar para o serviço?”.

O jovem levantou sua mão e apontou para algo acima da cabeça de Hongjun, indicando que olhasse naquela direção.

O garoto virou a cabeça para ver, dando de cara com uma placa pregada em cima da porta de entrada com seis grandes palavras escritas: Departamento de Exorcismo do Grande Tang.

 

 

 

Nos jardins do Palácio Xingqing, o céu além das muralhas era preenchido com nuvens sombrias e o ar abafado era quente além da conta. Li Longji abraçava a Yang Yuhuan sem se importar o calor e, assim que se separaram, ele queria voltar a circulá-la com seus braços. Depois de ficarem um tempo agarrados, ambos estavam cobertos de suor e tiveram de se contentar em apenas entrelaçar seus dedos enquanto bebiam seu refresco de ameixa azeda gelado. Lady Guoguo sentava-se próxima deles, descascando lichias e, assim que removia suas cascas, as colocava dentro de uma vasilha de vidro multicolorida com cubos de gelo, de onde Yang Guozhong as pegava para comer ao seu lado.  

“Tudo o que aquele capitão do Exército Longwu, Li Jinglong, fez foi patrulhar a cidade a noite e aproveitar a oportunidade para ir ao bordel. Então, seus subordinados ficaram bêbados, começaram a brigar e causaram uma confusão, depois perceberam no dia seguinte quando acordaram que não podiam limpar sua bagunça e inventaram essa piada absurda,” Yang Guozhong falou exuberantemente.

“Essa pessoa deve ser expulsa,” Lady Guoguo afirmou. “Não respeitar seus superiores, ignorar suas ordens, mentir para o Imperador e espalhar rumores falsos, como poderíamos deixar isso de lado?”.

Yang Yuhuan de repente se lembrou de algo e questionou, “Li Jinglong não é… primo do General Feng?!”.

“Ele mesmo,” Yang Guozhong confirmou. “Um tempo atrás, Changqing voltou à corte e entregou uma carta de recomendação para seu primo mais novo, ele queria levá-lo em campanha para contribuir na guerra. Em minha opinião, ele deve estar entediado. Se o puséssemos em campo para lutar por alguns anos, naturalmente não causaria mais problemas.”

Li Longji assentiu brevemente, porém quando estava prestes a abrir sua boca, Yang Yuhuan observou as expressões dos outros e não conseguiu manter o silêncio, afinal, dizendo, “General Feng acabou de fazer uma grande contribuição para o país na guerra, então mandar seu primo embora desta forma… no final das contas, o sangue corre mais quente nas veias dos jovens, isso não é crime algum.”

“Anos atrás, quando Duque Di ficou velho e ruim da cabeça, ele continuava dizendo que havia yaos por aí,” Li Longji recordou, continuando, “Ele até mesmo havia criado um departamento para isso, chamado o ‘Departamento de Exorcismo’. Estava sob controle direto do Departamento da Ordem e da Paz e, depois que a capital foi movida, ele foi trazido para cá também.”

Yang Yuhuan respondeu, “Eu acho que me lembro de quando eu era pequena…”

“Eu sabia que você viria com a história da raposa branca de novo,” Lady Guoguo a repreendeu com um leve sorriso.

Li Longji disse, “Falando nisso, quando eu era mais novo eu… quando foram oferecer sacrifícios aos deuses, eu me lembro de ver a silhueta de um dragão negro no Rio Luo.”

Yang Yuhuan sorriu, “Isso é um bom presságio! As pessoas comuns apenas não sabiam dizer que era um milagre, então o chamaram de demônio. Um sinal auspicioso e não foi prova evidente do destino de Sua Majestade?”.

“De fato,” Li Longji respondeu. “Hm… Eu subitamente tive uma ideia. Já que Li Jinglong tem pensamentos tão peculiares e habilidades tão surpreendentes, que tal o colocarmos no comando do Departamento de Exorcismo?”.

Yang Guozhong, Yang Yuhuan e Lady Guoguo congelaram por um momento ao ouvir aquilo, antes de Yang Yuhuan abrir um sorriso. Os cantos dos lábios de Lady Guoguo estremeceram levemente e, por um momento, ela não soube como responder.

Assim, Li Longji disse com uma expressão perfeitamente séria, “Está resolvido, então. Apesar de não sabermos a atual localização do Departamento de Exorcismo, ele ainda deve existir. Afinal, este rapaz realmente não pode continuar no Exército Longwu. Ordenem-no que vigie o Departamento de Exorcismo e espalhem as palavras “sinal auspicioso” para todos os cidadãos de Chang’an, assim o desejo do velho Feng Changqing também será realizado. Este assunto será deixado em suas mãos, Guozhong.”

Yang Guozhong, “...”

 

 

 

Dentro da construção dilapidada, Hongjun e aquele belo rapaz continuaram a se encarar por um tempo. Nenhum deles imaginava que aquele seria o lugar! O prédio obviamente havia sido deixado às moscas por anos a fio e o saguão estava repleto de teias de aranha, apesar de que, quando caminharam por aí, viram que os quartos lá dentro ainda eram relativamente grandes e bem feitos. Além do corredor de entrada, havia um enorme pátio onde se encontravam diversos baús apodrecidos, completamente vazios por dentro.

O nome do jovem era Mo Rigen e ele era da tribo Shiwei. O rapaz na verdade havia vindo para se alistar como exorcista também e pediu para ver a carta de Hongjun, estudando-a atentamente do lado de fora. O mesmo conteúdo constava-se nas duas cartas, aparentemente: que haviam monstros em Chang’an correndo a solta e que os descendentes das famílias de exorcistas de perto e longe deveriam se apresentar para o trabalho no Departamento de Exorcismo.

Enquanto Mo Rigen comparava os papéis, Hongjun resolveu caminhar pela área do Departamento. Ele viu que no pátio frontal havia uma árvore guarda-sol que se sobrepunha aos beirais dos telhados e diversas sementes haviam caído no chão ao redor de suas raízes. Olhar para ela lhe dava uma sensação de conforto. O pátio era conectado às alas leste e oeste também através de dois corredores com sinos de vento pendurados em ambos, produzindo um gentil tilintar. Nas partes mais aos fundos, além da falsa parede[3] levantada, as portas e janelas dos doze quartos disponíveis haviam apodrecido e ratos corriam para lá e para cá, dando pequenos guinchinhos. 

No prédio mais adentro, havia um grande e extenso salão, que deveria ser o principal. Dentro dele havia diversos confortáveis sofás feitos de bambu e, no meio de tudo aquilo, uma mesa de chá. Os anos não haviam sido gentis com aqueles móveis e mesmo cacos de porcelana quebrada podiam ser vistos embaixo da mesa de madeira.

Por fim, no pátio dos fundos, havia um estábulo para os cavalos, além de uma porta aparentemente lacrada.

“Kong Hongjun.” Mo Rigen terminou de analisar as cartas no saguão e rapidamente caminhou em sua direção, sua cabeça quase colidindo com o batente da porta enquanto dizia, “Nossas cartas são iguais.”

Hongjun respondeu, “Então, isso é estranho…”

Em sua imaginação, o Departamento de Exorcismo do Grande Tang deveria ser um lugar onde havia várias pessoas. Mesmo que não fosse como as divisões do governo nas lendas que lera, não deveria parecer também um posto de passagem[4]. Porém, estando ali agora, ele podia confirmar que não havia uma única alma viva além deles naquele lugar. Então, quem teria enviado aquela carta?

Antes de descer as montanhas, Qing Xiong não chegou a lhe dizer de onde a mensagem viera e nem a que linhagem de exorcistas Hongjun pertencia. Mas depois de olharem para ambos os papéis, parecia que alguém havia copiado as cartas igualmente e as enviado somente com a assinatura do caractere “Di”.

“Será que foi Di Renjie quem as enviou?” Mo Rigen indagou, “Mas ele já não está morto há anos?”.

“Pessoal, deem uma olhada naquela parede,” o yao carpa falou, parado no meio do salão principal com a cabeça inclinada.

Hongjun, “Hm?”.

O garoto deu um passo à frente para limpar a poeira da parede, revelando um mural que mostrava um oficial sentado usando robes púrpuras. Em frente ao desenho, havia um incensário coberto com uma camada de pátina.

“Este dever ser ele, não é?” Mo Rigen disse.

“Será que o Departamento de Exorcismo mudou de lugar?” Hongjun questionou.

“A carta dizia especificamente que era aqui,” o outro respondeu. “E como pode ver, este local deve ter sido abandonado há vários anos, então não parece que mudaram a sede recentemente.”

Os dois permaneceram em frente ao mural por um tempo. Hongjun sentia como se houvesse lutado contra uma parede de espinhos, escalado montanhas e cruzado rios infindos apenas para chegar ao final desta jornada de mil quilômetros e ver que a realidade era muito diferente do que ele esperava. Um estranho sentimento de desapontamento se apoderava de si tal como se tivesse escalado uma montanha durante um dia inteiro apenas para perceber que não havia nada de especial no topo.

Naquele momento, uma voz humana de repente veio do pátio frontal.

“Oh, a porta caiu. Tem alguém aqui?”.

Um jovem Hu[5] carregando um alaúde em suas costas e vestindo luxuosos robes vermelhos como os de um guerreiro estava parado na entrada, contando dinheiro para entregar aos dois carregadores que traziam pacotes grandes e pequenos, enchendo o pátio de bagagens. 

O rapaz tinha um nariz alto, olhos profundos, uma cabeça cheia de cabelos encaracolados e exibia quatro anéis em seus dedos. Sua pele era tão branca quanto leite e com uma mão ele abriu um leque da cor de uma pedra preciosa azul, segurando-o acima de sua cabeça para proteger seus olhos enquanto olhava para a esquerda e para a direita com uma expressão confusa.

Mo Rigen e Hongjun caminharam em sua direção, vindos do salão principal.

“Hai yo~!” O jovem Hu exclamou alegremente, pegando os dois de surpresa.

“Hai mie hou bi!” Ele abriu seus braços e gritou calorosamente. “Meus caros amigos de Tang! Olá~!”.

Logo em seguida, o rapaz rapidamente apareceu ao seu lado, primeiro abraçando a Mo Rigen antes de também apertar Hongjun em seus braços.

“Eu sou Tailopotamia Homihok Hammurabi,” ele disse. “Mas vocês podem me chamar de ‘A-Tai’.”

O jovem Hu chamado A-Tai finalmente acabou de fazer suas introduções e colocou suas duas mãos no peito enquanto lentamente se afastava, graciosamente fazendo uma reverência antes de dizer, “Se me permitem perguntar, este é o Departamento de Exorcismo do Grande Tang? Esta é minha carta de recomendação, quem é o oficial no comando?”.

Mo Rigen e Hongjun emudeceram ao mesmo tempo, mas antes que pudessem fazer qualquer pergunta, outra pessoa apareceu.

“Tem alguém aqui?”.

Os três se viraram ao mesmo tempo para ver o novo sujeito que entrara ali. Um erudito alto e um tanto acanhado colocava a cabeça para dentro da porta para olhar em volta.

“Eu me chamo Qiu Yongsi, sou uma pessoa de Jiangnan…” O rapaz os cumprimentou e sorriu. “Meu avô me enviou para cá, especialmente para… O que há de errado? Por que suas expressões estão…”

“Tão… estranhas… assim? Hm? Há um demônio no Departamento?!”.

Quinze minutos depois, cada um deles segurava sua carta em mãos, olhando uns para os outros.

O erudito, Qiu Yongsi, falou, “Antes de vir para cá, eu fui primeiro ao Departamento Judiciário. Eles não são os responsáveis.”

O jovem Hu, A-Tai, disse, “Quando eu fui ao Departamento de Ritos, eles também me disseram que não estavam no comando.”

Os quatro sentaram-se em círculo enquanto ficavam perdidos em pensamentos. Todos haviam recebido aquelas cartas dizendo para se apresentarem para o serviço, mas tudo o que encontraram quando chegaram lá foi um Departamento de Exorcismo isento de vida humana e repleto de ervas daninhas e arbustos selvagens. O que exatamente estava acontecendo?

“Tem algo que me parece muito suspeito.” A-Tai estalou seus dedos enquanto caminhava em círculos no saguão, olhando para Mo Rigen ao dizer pensativamente, “Eu sou do Tokharistão; este irmão, Mo Rigen, é das grandes planícies de Saiwai; este belo irmãozinho…”

“Meu nome é Hongjun, Kong Hongjun,” o garoto respondeu.

“De onde você veio?” A-Tai perguntou com um sorriso.

“Das Montanhas Taihang.”

“E quanto a você?” O outro indagou ao erudito chamado Qiu Yongsi.

“Xihu,” ele anunciou.

A-Tai continuou, “Todos nós viemos de perto e de longe, e todos recebemos nossas cartas em momentos distintos, então como chegamos a Chang’an e nos encontramos aqui no mesmo dia?”.

“Você está certo!” Hongjun exclamou.

“Oh?” Qiu Yongsi questionou, “Vocês também acabaram de chegar?”.

“Mm.” Mo Rigen assentiu brevemente, como se estivesse cogitando mais alguma coisa. “Se encontrarmos a pessoa que enviou as cartas, talvez finalmente possamos entender sobre o que se trata.”

Hongjun só conseguia pensar que se aquela pessoa havia conseguido entregar uma carta nas mãos de Qing Xiong, então não significava que ela sabia que o garoto estava no Palácio Yaojin? E, se ela soubesse, talvez também tivesse conhecimento sobre Di Renjie e seu pai, Kong Xuan? No mínimo, a pessoa que escrevera as cartas teria algum conhecimento dos eventos do passado, certo?

O rapaz hesitou por um segundo, subitamente tendo um pensamento brilhante, “Vocês acham que mais pessoas vão chegar em breve?”.

A-Tai assentiu com um sorriso torto formando-se nos cantos de seus lábios. “Exatamente, então o que podemos fazer por hora é apenas esperar.”




----------

[1] Um dos Quatro Seres Malignos, justaposto com os Quatro Seres Celestiais. Eram um padrão comum para se desenhar em velhos dings (um tipo de caldeirão chinês antigo, geralmente usados em rituais).

[2] Um movimento de artes marciais onde se deita no chão e usa as mãos para dar impulso para ficar em pé, jogando suas pernas para frente.

[3] Era comum levantar paredes falsas na entrada dos salões principais para evitar os olhares das pessoas nas ruas e tornar mais difícil a entrada de ladrões e assassinos sem que fossem notados.

[4] Não existe palavra certa para traduzir este termo, aparentemente, mas basicamente é um posto da guarda localizado na entrada de cada cidade onde viajantes com autorização do governo ou outras forças maiores poderiam parar para descansar e se reabastecer.

[5] Hu era um termo usado para vários povos não chineses do norte e oeste. Geralmente se referia às pessoas de origem persa, turca, xianbi, indiana, kushana, sogdiana e, ocasionalmente, xiongnu.



Traduzido por: Mia

Revisado por: Mia

TGCF Brasil


0 Comentários em "Capítulo 7 | Novel 'A Lenda do Exorcismo'"