Capítulo 22 | Novel 'Benção do Oficial do Céu'

outubro 23, 2021 0

 


CAPÍTULO 22 - Distância Encurtada; À Deriva nas Tempestades de Areia (Parte 3)

Benção do Oficial do Céu








A cauda de escorpião!

No entanto, por causa do ferrão fincado entre seus dedos, Xie Lian finalmente conseguiu agarrar a outra ponta do animal e capturar a cobra apropriadamente, espremendo-a com força até que ficasse inconsciente. Mesmo tendo sido picado, o rosto do príncipe não mudou em momento algum e ele jogou o bicho no chão indiferentemente.

“Pessoal, tenham cuidado, podem haver mais cobras por perto…”

O deus sentiu alguém agarrar sua mão com força antes que terminasse as palavras e virou-se para ver San Lang segurando seu pulso.

“San Lang?” Ele olhou para o rapaz, confuso.

A razão por estar confuso era que, naquele exato momento, a expressão na face do jovem era um tanto peculiar, indescritivelmente fria a ponto de ser assustadora. Sua visão focava-se atentamente no ferimento nas costas da mão de Xie Lian, que agora dilatava por causa do veneno perverso. O pequeno furo causado pelo ferrão também havia ficado visivelmente grande, do tamanho de um corte feito por uma faca, por causa do inchaço cruel.

Com olhos escuros, San Lang silenciosamente retirou Ruoye dos braços de Xie Lian e imediatamente a amarrou ao redor de seu pulso, prevenindo o veneno de se alastrar. Mesmo que Ruoye gostasse de se aninhar ao príncipe, não era tão bem comportada assim, porém nas mãos de San Lang estava tão complacente que parecia morta.

Desde que se conheceram, Xie Lian nunca havia visto o garoto daquele jeito. Ele abriu sua boca para falar, mas San Lang virou-se para puxar uma adaga do cinto de um dos mercadores. Nan Feng viu aquilo e instantaneamente soube o que o rapaz queria fazer, acendendo uma chama em seus dedos. Sem ao menos colocar seus olhos no oficial, San Lang aqueceu a ponta da lâmina para desinfetá-la antes de virar novamente para Xie Lian e desenhar uma cruz sobre o ferimento com ela.

Quando estava prestes a baixar sua cabeça em direção à mão, o mais velho apressou-se em dizer: “Está tudo bem. O veneno é agressivo, sugá-lo não vai adiantar muita coisa. Eu não quero que você acabe se envenenando também…”

San Lang o ignorou, apertou mais seu pulso e colocou os lábios sobre a protuberância. As mãos de Xie Lian tremeram levemente e ele não conseguia dizer o porquê.

Ao seu lado, Fu Yao falou com desdém, “Não acredito que você conseguiu ser picado. O que estava pensando, pegando a cobra daquele jeito quando o garoto podia nem ao menos ser mordido? Está apenas causando problemas desnecessários.”

Suas palavras provavelmente estavam certas. Xie Lian lembrava-se do jeito despreocupado com que San Lang havia brincado com a cobra dentro da caverna, ele talvez nem se preocuparia com qualquer tipo de ataque e não seria mordido. Mas no caso, apenas no caso, de que San Lang não tivesse notado a cobra de fato e fosse atingido, então seria tarde demais.

Xie Lian acenou com sua mão boa. “Não se preocupe. Nem ao menos está doendo, não vou morrer por causa disso.”

“Você realmente não está com dor?” Fu Yao perguntou.

“Não estou. Eu não sinto mais dor,” ele respondeu honestamente.

Já que o príncipe possuía a pior das sortes, toda vez que se embrenhava nas montanhas ou florestas, em oito de dez vezes acabaria pisando em víboras ou dando de cara com insetos peçonhentos, ou sendo mordido, picado, espetado ou envenenado de milhares de outros jeitos diferentes. Talvez por causa de seu status celestial, o deus nunca morria por tais infortúnios e no máximo teria uma febre. Depois de três dias e noites de cama, estaria novo em folha novamente e seguiria sua vida como se nada tivesse acontecido. Gradualmente, ele se tornou cada vez menos sensível à dor e se acostumou a viver daquela forma.

Assim que as palavras deixaram sua boca, San Lang finalmente olhou para cima. O inchaço vermelho na mão de Xie Lian fora reduzido e uma mancha de sangue havia ficado nos lábios do rapaz. Seu olhar era extremamente congelante quando moveu seus olhos do deus para a cobra ainda desacordada no chão. BOOM! O animal abruptamente explodiu em uma poça de sangue e vísceras.

O estouro repentino assustou a todos, mas nenhum deles sabia quem havia feito aquilo. Mesmo que os pedaços do bicho não houvessem atingido ninguém, ainda havia um sentimento inquietante se apoderando de cada um. 

Tian Sheng, que ainda lembrava que Xie Lian também havia sido atingido, perguntou preocupado, “Gege, você foi picado também! O que vai fazer?”.

Xie Lian acariciou a bandagem em seu pulso e sorriu. “Não se preocupe, pequenino. Vamos seguir com o plano de ir até as ruínas de Meia Lua e procurar pela erva shanyue[1].”

Outro mercador questionou, “Vocês vão para lá? E quanto a nós? Também deveríamos enviar alguém para ajudá-los?”.

“Vocês todos podem ficar aqui. O território de Meia Lua é perigoso, quanto mais pessoas forem, mais acidentes podem ocorrer. Encontraremos a erva e a traremos de volta dentro de vinte e quatro horas,” Xie Lian afirmou.

“É… é sério? Muito obrigado—!”

“Como podemos possivelmente…”

Um certo número de mercadores começou a gaguejar em agradecimento, mas suas faces mudaram assim que Xie Lian continuou a falar.

“Mas para podermos chegar em Meia Lua o mais rápido possível, eu gostaria de pegar seu guia emprestado temporariamente, se não se importarem.”

Naturalmente, o príncipe falava de A-Zhao. Os mercadores foram de gratos e aliviados para hesitantes em segundos. Xie Lian sabia o porquê daquilo. Eles tinham medo de que o quarteto fugisse com seu guia assim que encontrassem a erva shanyue, e mesmo que A-Zhao não fosse com eles, o tempo ainda era curto e seria tarde demais. De todo modo, nenhum deles queria se aventurar naquele lugar macabro onde “ao menos metade dos viajantes desaparecia”. Suas preocupações eram completamente compreensíveis, então o príncipe adicionou:

“E apenas no caso de que mais alguma coisa apareça para atacar vocês, Fu Yao ficará aqui até retornarmos.”

Um homem por um homem, aquilo lhes asseguraria que Xie Lian retornaria. Os mercadores finalmente concordaram com as condições e assentiram.

“Certo. Contanto que A-Zhao esteja disposto.”

O deus virou para A-Zhao. “Pode nos dar uma mão, meu amigo? Se não quiser, não há problemas também.”

A-Zhao consentiu e disse, “Claro. Mas as ruínas de Meia Lua não são difíceis de encontrar, apenas precisam continuar caminhando nesta direção.”

Depois de se despedirem dos outros, A-Zhao tomou a liderança com Xie Lian, San Lang e Nan Feng seguindo bem atrás dele.

Um tempo depois, Xie Lian perguntou, “A-Zhao, as cobras-escorpião aparecem com frequência nessa área?”.

“Não muito, esta foi a primeira vez que vi uma também,” o outro respondeu.

Xie Lian assentiu e se calou, sem mais questões. Na verdade, ele mesmo havia vivido na área de Meia Lua por um número considerável de anos e aquela era a primeira vez que via uma cobra-escorpião também. Então, a resposta de A-Zhao não era motivo de estranheza.

Contudo, Nan Feng percebeu as intenções do deus e questionou em uma voz baixa, “Você suspeita desse tal de A-Zhao?”.

Xie Lian sussurrou de volta, “De qualquer forma, o trouxemos até aqui. Apenas fique de olho nele.”

Anteriormente, era sempre San Lang quem vinha falar com ele de prontidão, mas desde o incidente mais cedo o garoto não parecia muito receptível, caminhando ao seu lado de maneira estoica e silenciosa.  Xie Lian não conseguia descobrir o que se passava por sua cabeça e não sabia como se aproximar dele no momento, então continuou andando também.

Os quatro seguiram viagem pelo vasto Deserto de Gobi. As tempestades de vento haviam há muito passado e, sem mais obstruções, eles conseguiam avançar rapidamente. Logo, o grupo começou a ver esparsas gramíneas aqui e ali, crescendo entre as rachaduras das rochas e a areia. Quando o sol já estava quase se pondo, Xie Lian finalmente avistou uma fortaleza ancestral no horizonte.

A fortaleza era difícil de ser enxergada por causa da cor da areia, camuflada pelo cenário amarelado e se tornando um com o deserto. Algumas partes das paredes da construção também haviam sido cavadas e enterradas. Quanto se aproximaram, perceberam que as muralhas eram extremamente altas, estendendo-se por dezenas de metros. Não era difícil de imaginar sua magnitude no passado, quão grande deveria ter sido.

Passando pelo barbacã, os quatro formalmente entraram no Reino de Meia Lua.

Além dos muros, havia uma rua principal vasta e desolada, com casas dilapidadas em ambos os lados, vigas apodrecidas e tijolos quebrados jogados a esmo.

Pela força do hábito, A-Zhao os alertou, “Por favor, tenham cuidado e não saiam por aí sozinhos.”

Os outros três não precisavam daquele lembrete. A fortaleza de Meia Lua era provavelmente diferente do que imaginavam e Nan Feng indagou, “Este é o Reino de Meia Lua? É menor que uma cidade capital!”.

“Um país desértico é tão grande quanto o oásis onde é construído,” Xie Lian explicou. “Em seu auge, a população não passava de dez mil cidadãos. Era bem movimentada para uma fortaleza deste tamanho, na verdade.”

Nan Feng continuou a observar os arredores. “Provavelmente, levaria apenas alguns dias para cercar um país deste tamanho.”

Xie Lian balançou a cabeça. “Não necessariamente. Não subestime o povo de Meia Lua, Nan Feng. Mesmo que a população não passasse de dez mil, eles mantinham o número de soldados por volta de quatro mil. Havia mais homens do que mulheres aqui, e fora os doentes e idosos, e também os fazendeiros, a maioria deles se juntava ao exército. Além disso, a maior parte desses soldados tinha mais de dois metros, cada um mais violento que o outro. Com uma clava em suas mãos, eles continuavam a lutar mesmo com lâminas cravadas em seus peitos. Eram realmente difíceis de derrubar.”

A-Zhao parecia surpreso e olhou para Xie Lian. “Este jovem mestre parece saber muito.”

O príncipe manteve seu sorriso e estava prestes a continuar a conversa quando Nan Feng questionou, “O que é aquela parede?”

Ele indicava o enorme edifício amarelado à distância.

“Edifício” não era exatamente a palavra certa para descrevê-lo, já que era um gigante recinto formado por quatro massivos muros da cor da lama, sem portas ou telhado. Cada parede tinha mais de trinta metros e bem ao topo havia um mastro com algo esfarrapado amarrado, voando ao vento. Era uma imagem de dar calafrios.

Xie Lian virou sua cabeça para dar uma olhada, dizendo simplesmente, “Esse é o Poço dos Pecadores.”

Apenas pelo som daquele nome, obviamente não era algo bom. 

“Poço dos Pecadores?” Nan Feng franziu o cenho. 

Concordando com uma voz grave, Xie Lian explicou, “Você pode pensar naquilo como uma prisão. Foi feito especificamente para conter criminosos.”

“Como podem aprisionar alguém se não existe ao menos uma porta? Jogando-os do topo?” Nan Feng indagou.

O príncipe hesitava em responder, mas San Lang subitamente se pronunciou.

“Eles eram realmente jogados. E o poço é repleto de cobras venenosas e bestas famintas.”

Ouvindo-o finalmente falar novamente fez Xie Lian se sentir aliviado, porém quando olhou para San Lang, o garoto encontrou seus olhos e virou a cabeça.

Nan Feng xingou, “Isso não é a porra de uma prisão, é tortura! Que cruel! Todas as pessoas de Meia Lua eram doidas da cabeça ou psicopatas selvagens?!”.

Xie Lian massageou a testa. “Nem todas elas. Algumas eram bem agradáveis…” Ele pausou de repente, franzindo as sobrancelhas. “Esperem.”

Os outros três pararam e o deus apontou para cima.

“Olhem para o mastro no topo do poço. Aquilo é uma pessoa pendurada lá?”.

Na luz diminuta do sol poente e com toda a distância entre eles e o cativeiro, era difícil enxergar exatamente o que estava pendendo do poste. Entretanto, chegando mais perto e tentando discernir a forma, ficava óbvio que era uma pequena e magricela pessoa vestida de preto, suas roupas destruídas, balançando ao vento como uma boneca de pano.

“É uma pessoa,” San Lang confirmou.

Quando A-Zhao viu o indivíduo pendurado, seu rosto perdeu a cor. A cena era tão aterrorizante e peculiar que mesmo alguém calmo e contido como ele não podia suportar tal visão.

Naquele momento, San Lang virou a cabeça e disse em uma voz baixa, “Tem alguém aqui.”

Ele não fora o único a notar. Xie Lian também havia ouvido passos leves como uma pluma se aproximando. Os quatro imediatamente correram para se esconder dentro de uma das muitas construções caindo aos pedaços. Xie Lian e San Lang entraram em uma casa e Nan Feng e A-Zhao em outra, do lado oposto da rua. Logo em seguida, ao final da estrada destruída, uma cultivadora vestida de branco apareceu.

A mulher usava um robe leve e carregava um fúchén em seus braços, caminhando despreocupada pela rua, espreitando aqui e ali com olhos brilhantes e observadores, como se estivesse no jardim de sua própria casa e não nas ruínas de Meia Lua. Em seu encalço vinha outra mulher vestida de preto, com suas mãos atrás das costas.

A que vestia preto era bela, porém carregava uma expressão fria, seus olhos penetrantes, os cabelos negros longos e esvoaçantes, como se um ar gelado irradiasse de sua própria pessoa. Apesar de andar atrás da outra cultivadora, ninguém a julgaria como uma serviçal.

Eram as mesmas mulheres que eles viram à tarde do lado de fora da pousada abandonada.

Naquela situação, ambas haviam passado rapidamente e Xie Lian não fora capaz de observar com detalhes a pessoa de preto, mas agora ele podia ver claramente que era de fato uma mulher. Se a de branco era o Mestre Maligno de Banyue, então quem era a outra?

A cultivadora à frente balançou seu fúchén e disse, “Para onde aquelas pessoas foram? Nos descuidamos por um momento e todos eles desapareceram. Eu vou mesmo ter que desenterrá-los e matá-los um por um?”.

Como Xie Lian imaginara, eles eram observados no momento em que entraram na fortaleza.

A dama de preto se aproximou e estoicamente respondeu, “Você pode chamar seus amigos para ajudar a matá-los.”

Aqueles “amigos” deveriam ser os soldados de Meia Lua.

A Guoshi de Banyue riu. “Ha! Eu não gosto de chamar outras pessoas. Eu gosto de chamar você. Não está feliz?”.

A cultivadora de preto a ignorou completamente e falou indiferente, “Não há nada de agradável em ser convocado por alguém como você para algo assim. Apenas vá.”

A Guoshi de Banyue arqueou suas sobrancelhas, mas ainda assim se apressou. Ouvindo sua conversa, parecia que as duas eram próximas. Ambas não eram pessoas comuns, então a dama de preto devia ser alguém renomado também. Alguém que seria próximo da Guoshi de Banyue? Uma misteriosa colega cultivadora? Ou havia alguma rainha ou general da qual eles não tinham conhecimento?

Xie Lian tentava com dificuldade conectar os pontos rapidamente em sua cabeça, mas segurou sua respiração. Agora não era hora de ser descoberto. Parecia que a guoshi tinha uma personalidade imprevisível e se ela os encontrasse e convocasse seus lendários soldados de Meia Lua com dois metros e clavas sangrentas, então mais tempo seria perdido tentando lutar contra eles. Vinte e quatro horas. Uma única hora desperdiçada seria mais uma hora de desespero e do veneno se tornando mais perigoso. Contudo, não havia como contornar sua má sorte, tudo o que ele queria que não acontecesse acabava acontecendo. A dama de preto passava pela casa onde Xie Lian e San Lang estavam escondidos, mas parou no meio do caminho e seu olhar penetrante varreu rapidamente o abrigo decadente.

A Guoshi de Banyue já estava mais à frente, porém notou que sua companheira havia pausado e deu meia volta. “Ei, você não vem?”.

A cultivadora de preto não olhou para ela. “Você. Para trás.”

“Certo,” a guoshi respondeu obedientemente e recuou alguns passos. A dama de preto estava prestes a levantar sua mão quando, subitamente, um alto estrondo reverberou do outro lado da rua.

A casa onde Nan Feng e A-Zhao se escondiam havia colapsado! O desmoronamento de uma construção fez com que todas as outras cedessem e abrissem um buraco na calçada. Pó e areia voaram para todos os lados e envolveram a estrada inteira em uma nuvem amarela. De dentro dela, uma silhueta negra saltou e atirou um raio de chamas contra a guoshi, porém a dama de preto foi mais rápida e correu à frente para bloquear o ataque antes que a atingisse. Com sua mão esquerda ainda atrás das costas, ela virou sua direita e facilmente absorveu as chamas de volta. A sombra preta esquivou-se dela enquanto fugia e logo desapareceu. A guoshi imediatamente correu atrás da pessoa, mas a dama de preto deu uma última olhada na casa atrás de si antes de segui-la.

“Que os céus lhe abençoem, Nan Feng,” Xie Lian agradeceu mentalmente.

Tudo aquilo aconteceu rapidamente, mas sem dúvidas Nan Feng de alguma forma sabia que eles estavam prestes a ter problemas e causou uma distração para conduzir os inimigos para longe. Ele havia sido o único a sair de seu esconderijo, então A-Zhao ainda deveria estar dentro da casa destruída. Depois de ter certeza de que a guoshi e a dama de preto haviam realmente desaparecido, Xie Lian levou San Lang para fora do abrigo e chamou o guia.

“A-Zhao, ainda está vivo? Está machucado?”.

Um momento depois, uma voz aborrecida veio de baixo das ruínas, “... Estou bem.”

Xie Lian parecia aliviado. “Graças aos deuses.”

Apesar do príncipe confiar nas habilidades de Nan Feng para controlar a explosão e, sem dúvidas, deixar um espaço seguro para que A-Zhao não se ferisse, ainda assim era tranquilizador vê-lo inteiro com seus próprios olhos. Xie Lian levantou uma das vigas apodrecidas com uma mão e, um instante depois, A-Zhao surgiu dentre os escombros, coberto de poeira dos pés à cabeça. Ele bateu em suas roupas por um tempo para retirar o excesso antes de voltar à sua expressão estoica.

“Agora só sobrou nós três,” o deus afirmou. “Nan Feng está criando uma distração, então precisamos agir rápido. Você sabe onde encontrar a erva shanyue, A-Zhao?”.

O rapaz sacudiu a cabeça e disse, “Desculpe, eu apenas sabia onde a fortaleza ficava, mas nunca vim aqui antes, então não sei onde a erva cresce.”

San Lang se pronunciou. “Dizem que a erva shanyue prefere a sombra, é pequena e com raízes finas, mas folhas largas, como um pêssego em formato de coração. Por que não procuramos perto de um edifício alto?”.

“Um edifício alto?” Xie Lian contemplou.

Se estavam falando sobre altura, não havia construção maior que o próprio palácio. Segundo a lenda, foi após as festividades que a rainha pegou a folha de samambaia para cobrir as vítimas, então aquilo poderia significar que a planta crescia nas redondezas do lugar.

Os três moveram seus olhares para longe e, no centro da fortaleza, havia realmente um palácio construído com madeira e tijolos.

À distância, o edifício possuía uma aura grandiosa, porém ao olhar mais de perto, não estava em melhores condições que as casas dilapidadas pelas ruas. Além dos portões do palácio havia um enorme jardim, apesar de provavelmente não ter sido um jardim no passado, na verdade, e sim um pátio frontal. Após anos negligenciado, no entanto, ervas daninhas haviam crescido e se espalhado por toda a área.

De fato, não era areia abaixo de seus pés, mas lama. Aquilo provavelmente era a única lembrança do oásis que uma vez se encontrara ali, a erva shanyue poderia muito bem estar crescendo entre as outras plantas naquele local.

“Não vamos perder tempo,” Xie Lian falou. “Temos apenas vinte e quatro horas. Mas tomem cuidado com as cobras-escorpião.”

A-Zhao e San Lang assentiram em confirmação e baixaram suas cabeças para começar a procurar entre os vegetais. Enquanto vasculhavam, de repente Xie Lian pensou que, se o Mestre Maligno de Banyue podia controlar as cobras-escorpião, deveria haver um número abundante delas em seu território. Porém, desde que entraram na fortaleza, eles não haviam avistado sequer um daqueles animais.

O príncipe se endireitou e estava prestes a falar quando uma de suas mãos tocou em um longo objeto.

Olhando para baixo novamente, ele percebeu que era uma perna humana.








[1] Apesar de termos usado samambaia para se referir à esta planta, vamos usar “erva” quando citarmos seu nome específico apenas pelo fato de ter uma sonoridade melhor do que “samambaia shanyue”.



Traduzido por: Mia

Revisado por: Mia

TGCF Brasil



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