Capítulo 26 | Novel 'Benção do Oficial do Céu'

CAPÍTULO 26 - HuaLian aos Flertes; A Noite Cai no Abismo dos Pecadores (Parte 3)

Benção do Oficial do Céu

“Esta história está ficando cada vez mais complexa e enrolada,” Xie Lian pensou. Ele questionou, “General, eu queria perguntar…”

“Não pergunte mais nada!” Ke Mo o interrompeu. “Vocês mataram meus soldados, o que mais querem saber?! Eu não vou responder nada. Agora, lutem comigo!”

“Fui eu quem os matou, ele não fez absolutamente nada,” San Lang interveio. “Você pode responder suas perguntas enquanto luta comigo.”

Bem, aquela era uma lógica irrefutável. 

Ke Mo exclamou furioso, “Vocês dois estão sob as ordens dela, não existe diferença!”

Xie Lian imediatamente falou, “General Ke Mo, acho que está enganado. Viajamos pelo Deserto de Gobi para nos livrar da Guoshi de Banyue, como poderíamos ser ajudantes que ela enviou?”

Ouvindo que Xie Lian na verdade estava ali para destruir a Guoshi, Ke Mo caiu no silêncio. Ele, assim, perguntou, “Se não estão aqui para ajudá-la, então por que mataram meus soldados?”

O príncipe explicou, “Não seria por que você nos jogou aqui neste poço e precisávamos nos defender?”

Ke Mo rugiu com raiva, “Besteira! Eu não joguei nenhum de vocês aqui! Eu até mesmo lhe segurei! Foram vocês que pularam aqui sozinhos!!”

“Sim, sim, sim, pulamos aqui por conta própria, realmente. General, todos nós estamos aqui presos no fundo deste abismo no momento, vamos apenas fazer uma trégua por hora, tudo bem? Por que a Guoshi de Banyue abriu os portões da fortaleza e deixou os inimigos entrarem?”

Como se Ke Mo realmente fosse ouvir a razão. Ele disse, implacável, “Vocês são tão astutos e injustos, lutando dois contra um.”

Xie Lian sentiu-se um pouco exasperado. “Eu apenas o atingi uma vez. Não fiz quase nada.”

O deus não se importava em ser chamado de astuto ou injusto. Quem ligava para dois contra um? Se a situação pedisse por isso, ele traria cem pessoas para derrotar uma única ameaça, que dirá dois contra um. Porém, mais cedo, San Lang obviamente estava em vantagem mesmo com Xie Lian em seus braços e ainda lhe disse que não precisava entrar na briga. O homem parecia pensar que poderia vencer se estivesse lutando apenas contra o rapaz, no entanto, e Xie Lian sentia-se um pouco mal por ele.

Ke Mo era incrivelmente não cooperativo, mas o príncipe não estava preocupado. O general parecia ser do tipo que facilmente soltava a língua e eles tinham tempo, então aquilo não era um problema.

San Lang, por outro lado, não tinha a mesma paciência e languidamente disse, “É melhor você responder as perguntas dele, pelo bem dos seus soldados.”

“Você já matou todos eles,” Ke Mo afirmou. “Não há sentido em usá-los para me intimidar.”

“Eles estão mortos, mas seus corpos ainda estão aqui,” San Lang respondeu.

O general pareceu ficar em alerta com aquela afirmação, incapaz de ficar esparramado no chão por mais tempo. “O que você vai fazer?”

O jovem sorriu de lado, “Isso dependo do que você quer fazer.”

Apenas pela sua voz, Xie Lian conseguia imaginar San Lang arqueando a sobrancelha.

“Você quer que suas próximas vidas sejam afortunadas ou que eles renasçam como uma poça de sangue?”

Ke Mo pausou, mas por fim entendeu o que San Lang quis dizer, explodindo, “VOCÊ?!”

O povo de Meia Lua levava a morte e os funerais bastante a sério. Eles acreditavam que o falecido seria renascido tal qual como aparentava no momento de sua morte. Por exemplo, se a pessoa tivesse perdido um braço, então ela renasceria deficiente. Se os corpos naquele abismo fossem destruídos, então qual seria sua aparência ao renascer?

General Ke Mo era um cidadão puro-sangue de Meia Lua e não podia evitar ter medo. Como esperado, do outro lado daquele poço, o brutamontes rangeu os dentes em fúria, mas finalmente cedeu, desamparado.

“Não toque em seus corpos. Eles eram soldados bons e corajosos. Já é uma tragédia terem de ficar presos aqui por tantos anos. Eu não sei se ser morto por você é uma bênção ou não, mas não deixarei que seus restos mortais sejam humilhados.” Ele pausou e perguntou, “Vocês realmente estão aqui para matar Banyue?”

Xie Lian respondeu calidamente, “Isso não é uma mentira. Quanto mais soubermos sobre ela, mais chances teremos de vencer. Não muito se é sabido da Guoshi de Banyue lá fora, então não temos ideia de como lutar contra ela. Mas você esteve sob seu comando no passado, então talvez possa nos prover mais informações.”

Quiçá era porque compartilhavam do mesmo inimigo, a Guoshi de Banyue, que um tipo de ligação fora formada entre eles. Ou talvez naquela prisão inescapável, rodeado pelos corpos de seus falecidos soldados, Ke Mo tivesse ficado desanimado. Independente de qual fosse o caso, o general havia perdido a vontade de atacá-los.

“Vocês não sabem por que ela abriu os portões? Porque estava contra nós! Ela nos odeia! Odeia o Reino de Meia Lua!”

“O que quer dizer com ‘odeia o Reino de Meia Lua’? A Guoshi de Banyue não era uma cidadã de Meia Lua?” Xie Lian indagou.

“Sim, mas não totalmente,” Ke Mo respondeu. “Ela é meio-sangue e a outra metade de seu parentesco é de Yong’an!”

“Ah…”

Aparentemente, a famigerada Guoshi de Banyue havia nascido da união entre uma mulher de Meia Lua e um homem de Yong’an. Viver nas fronteiras entre o ódio e os conflitos incessantes era muito difícil, e o homem de Yong’an finalmente se deu por vencido e saiu dali, voltando à sua terra natal. Apesar do divórcio ter ocorrido em bons termos, a mulher de Meia Lua logo faleceu devido à solidão.

Ambos deixaram para trás uma criança de seis ou sete anos, e sem guardiões a garota percorria as ruas sozinha, faminta e desesperada. O casal recebia um tratamento frio onde quer que fossem e agora sua filha, também, era olhada com desprezo por onde passasse. O povo de Meia Lua era alto e musculoso, e via beleza na força e na vivacidade, mas aquela menina era nascida de sangue misto e tinha uma aparência pequena e franzina em comparação com as outras crianças. Os jovens de Meia Lua não brincavam consigo, mas havia alguns de Yong’an que prestavam atenção nela.

Quando esta pequena garota meio-sangue tinha uns dez anos, uma rebelião começou e os dois exércitos entraram em combate. Aquela batalha tirou muitas vidas e, depois de tudo, a pequena meio-sangue desapareceu.

Ela não possuía nem família nem amigos em Meia Lua, então ninguém percebeu ou se importou quando a menina sumiu. Na próxima vez em que apareceu, no entanto, a história era outra.

Durante aqueles anos, ela cruzou milhares de quilômetros e atravessou o Deserto de Gobi até Yong’an. Ninguém sabia que tipo de pessoas ela conhecera, mas quando retornou era proficiente em magia negra e podia controlar as mais temidas criaturas de Meia Lua, as cobras-escorpião.

Com sua volta, apesar de muitos ficarem impressionados com suas habilidades, outros vários a temiam. Aquilo devia-se ao fato de que a personalidade da garota nunca mudara, ela ainda era sombria e antissocial. Também haviam muitos que zombavam de si no passado, então se a jovem acabasse sendo admitida no palácio e adquirisse uma alta posição, uma hora não iria procurar por vingança contra eles?

“Tenho certeza de que devem haver muitos que falaram mal dela,” Xie Lian comentou.

Ke Mo concordou. “Não apenas falaram mal dela, eles foram diretamente ao palácio e tentaram avisar o rei, dizendo que ela era uma mensageira maligna do clã das cobras-escorpião e que estava ali apenas para trazer ruína para o Reino de Meia Lua. Mas nenhum deles conseguiu convencê-lo.”

Xie Lian sugeriu, “E ela correu a ordenar que enforcassem aquelas pessoas?”

Ke Mo parecia ainda mais indignado. “Você, prole de Yong’an, por que sua mente é tão depravada e cheia de desenvolvimentos ruins? Não foi nada disso! Eu a protegi!”

Xie Lian estava exasperado. “Eu já disse que não sou de Yong’an… ah, tanto faz.”

Naquela época, Ke Mo já era um guerreiro feroz e distinto. Houve uma vez em que ele conduziu suas tropas para destruir o esconderijo de alguns bandidos do deserto e levou a garota, intitulada a Feiticeira do Palácio, consigo.

Aquele grupo de bandidos era forte e havia construído seu covil sob as areias. Durante a batalha, ambos os grupos sofreram casualidades e mesmo que o general no final tenha vencido, a luta fez com que o esconderijo embaixo da terra colapsasse. Além disso, fortes rajadas de vento começavam a se formar, então eles não poderiam possivelmente ficar ali. Ke Mo conseguiu retirar vários de seus soldados de lá, mas a outra parte, que incluía a garota, não conseguiu escapar.

Depois que se abrigaram em um lugar seguro e esperaram que a tempestade de areia cessasse, Ke Mo retornou ao local, pensando em desenterrar seus soldados e dar a eles funerais dignos. No entanto, quando chegou lá, descobriu que a feiticeira havia sozinha, apenas com seus poderes, cavado um buraco considerável e conseguido fazer com que todos os oficiais sobreviventes, feridos no combate, ficassem escondidos da tempestade.

Todos os corpos dos falecidos também já haviam sido escavados e dispostos de maneira organizada em uma fileira. Ela fizera aquilo tudo por si mesma e quando o outro grupo chegou lá, a garota estava coberta de sangue, porém ainda protegia a entrada da gruta silenciosamente, abraçando seus joelhos enquanto esperava por eles como um pequeno e solitário filhote de lobo.

“Depois daquele incidente, achei que ela era uma boa garota que havia feito a coisa certa,” Ke Mo disse. “Acreditava que ela nunca teria intenções de ferir o povo de Meia Lua, por isso me tornei seu protetor e lutei contra todas as vozes que falavam malícias sobre sua pessoa.”

Além do mais, o próprio Ke Mo havia crescido rodeado por comentários maldosos e entendia sua situação, então naturalmente começou a prestar mais atenção nela. Quanto mais tempo passava ao seu lado, mais percebia o quão poderosa aquela menina era e, assim, a endossou sem limites, ajudando-a a adquirir a posição de Guoshi e se tornando o que mais tarde seria conhecido como o mais leal servo da Guoshi de Banyue.

Aquilo durou até outra guerra ocorrer e o Reino de Yong’an enviar soldados para aniquilar o Reino de Meia Lua.

“Enquanto os dois exércitos lutavam e permaneciam num eterno embate, ela conduziu uma grande cerimônia para rezar aos céus, dizendo que era para trazer bênçãos a nós, soldados de Meia Lua,” Ke Mo contou.

Assim, a vontade de matar dos soldados se expandiu e seu espírito de batalha cresceu exponencialmente, defendendo as fronteiras até a morte. Flechas, pedregulhos gigantescos, óleo fervente, espadas e lâminas voavam de um lado ao outro, a chacina era realmente enorme.

Contudo, inesperadamente, enquanto a luta atingia seu ápice, aquela Guoshi subitamente abriu os portões da fortaleza. 

Com os portões escancarados, milhares de soldados inimigos invadiram a cidade como loucos. Após pisotearem a todos com seus corcéis de ferro, a própria fortaleza se tornou um ritual de sangue!

Ke Mo, que lutava arduamente contra os inimigos, explodiu em fúria ao ouvir que a Guoshi havia feito tal atrocidade. Porém, não importava quão forte ele fosse, uma única pessoa não poderia vencer contra tantos soldados.

O general rangeu os dentes. “Somente naquela hora descobri que ela sempre esteve agindo em conluio com o general inimigo e os dois combinaram de deixá-los entrar naquele momento. MAS MESMO QUE EU ESTIVESSE CONDENADO A MORRER EM BATALHA, ANTES DE PARTIR EU DEFINITIVAMENTE MATARIA AQUELA TRAIDORA, NÃO IMPORTAVA O QUE ACONTECESSE!!! Então, eu enviei um batalhão de soldados para atacar as fronteiras e tirá-la de lá, e nós a penduramos para a morte em cima do Abismo dos Pecadores. A penduramos neste mesmo mastro!”

Depois que as tropas inimigas invadiram, o Reino de Meia Lua se tornou um reino da morte. A Guoshi e o general, que morreram durante a luta, também se tornaram prisioneiros daquelas ruínas, ambos sempre vendo um ao outro com ódio e rancor mútuos. 

Xie Lian perguntou, “Então, General Ke Mo, você lidera os soldados de Meia Lua em busca daquela Guoshi por toda parte e sempre que a captura a pendura pelo pescoço acima do Abismo dos Pecadores?”

“E ainda não seria uma punição suficiente mesmo que a pendurássemos mil vezes, um milhão de vezes!” Ke Mo exclamou. “Porque ela tem apreendido todos os meus soldados que se tornaram Selvagens e os jogado para dentro deste poço! Ela também colocou um poderoso feitiço em volta deste local que apenas ela consegue quebrar, para que uma vez que você caia aqui, nunca mais consiga sair. E aqueles de nós que foram traídos por ela, estes soldados que morreram injustamente em batalha, possuem um ressentimento tão grande que somente pode ser apaziguado devorando a carne e o sangue daqueles de Yong’an, para que gradualmente possamos fazer nossa passagem desta terra com nosso ódio subvertido. Do contrário, podemos apenas uivar pelas longas noites sem absolvição!”

“Então, é por isso que continuam a capturar as pessoas e usá-las como comida para eles?” Xie Lian questionou.

“O que mais podemos fazer?” Ke Mo respondeu. “Escutar seus eternos lamentos daqui de baixo sem tomar providência alguma?”

“As pessoas que vocês jogam aqui, são vocês mesmos que as capturam?”

“Não podemos ir muito além das fronteiras de Meia Lua, mas felizmente, as cobras daquela menina gostam de caçar e acabam rastejando para fora das ruínas para morder as pessoas. As caravanas daqueles que foram envenenados, então, vêm para a cidade procurando pela erva shanyue.”

“Aquela criatura na lama, foi você quem o enterrou ali?”

“Isso mesmo. Aquele homem soterrado nos jardins originalmente planejava roubar as riquezas do palácio. Mas todos os tesouros de nosso reino foram levados por aqueles homens de Yong’an duzentos anos atrás.”

“Por que você enterrou apenas ele ao invés de jogá-lo aqui diretamente?” Xie Lian perguntou. 

“Porque precisamos de fertilizante para as ervas shanyue, afinal,” Ke Mo replicou. “De que outro jeito conseguiríamos fazer com que aquelas cobras-escorpião fiquem afastadas? Nós também não queremos ter de lidar com aquelas criaturas.”

“Isto não está certo.” O príncipe pensou. 

Se Ke Mo e seus homens conscientemente sabiam como produzir e fertilizar as ervas shanyue, mesmo indo tão longe a ponto de usar vidas humanas como adubo, então era claro que, mesmo estando mortos, seu medo das cobras-escorpião nunca diminuíra.

Se aquele era o caso, então, quando estavam vivos, deviam temer ainda mais os animais. Se a Guoshi de Banyue podia controlar uma arma tão letal quanto aquelas cobras-escorpião, então como poderia ter sido tão facilmente derrubada da torre da fortaleza por um bando de soldados e trazida até ali para ser pendurada?

De acordo com Ke Mo, nos últimos duzentos e tantos anos, ele havia capturado a Guoshi de Banyue diversas vezes e a pendurado de novo e de novo. Independentemente de como Xie Lian se sentisse, se fosse consigo e ele possuísse tal arma mortífera em suas mãos, nunca deixaria o inimigo ter qualquer chance de se aproximar.

E o fato de as cobras saírem da fortaleza para caçar por conta própria também era algo interessante. Seria aquilo coincidência? Improvável. O mais lógico seria que estivessem propositalmente tentando atrair as pessoas para o vale. Seria aquela era a intenção da Guoshi? Não estaria ela ajudando Ke Mo a capturar humanos para alimentar seus soldados? Se aquele era o caso, a ideia de um “ódio mútuo” não fazia sentido algum.

Ambos estavam fingindo serem inimigos, então? Qual era o propósito daquilo?

E, no meio de toda aquela bagunça, ainda havia a dama de branco e a pessoa que a acompanhava. Xie Lian decidiu fazer mais perguntas.

“General Ke Mo, quando entramos na fortaleza, vimos duas donzelas, uma de branco e a outra de preto. Você sabe quem são?”

Antes que obtivesse uma resposta, San Lang sussurrou, “Shhh.”

Xie Lian não sabia o que estava acontecendo, mas calou sua boca imediatamente. Um estranho pressentimento o fez olhar para cima.

Ali ainda podia-se ver o mesmo cenário de antes, o céu azul marinho com a lua crescente. Porém, perto da lua, ele viu uma pessoa, uma silhueta pequena e vestida de preto que olhava tudo do topo das muralhas.

Depois de observá-los por um tempo, a pequena figura ficou maior e maior — ela havia pulado.

E enquanto caía, Xie Lian pôde ver claramente que era a Guoshi pendurada naquele mastro anteriormente.

Traduzido por: Mia

Revisado por: Mia

TGCF Brasil

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